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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

fotos de poetas

tem piada
o preto e branco
olho solene
se me fotografassem
também eu não diria
na cara granulada
o que escrevo

*

passava muito
demais
tempo
olhando a sylvia plath
nos anos cinquenta

*

se fôssemos músicos
em tv e internet
amy winehouse presa no tráfego
vinte fotógrafos crápulas na sua cola
ela só queria um cigarro
mamilo do jim morrison
se ainda tenho tempo
morrer intensamente e jovem
na poesia que bobagem

*

aprender a quebrar versos
vendo fotos de poetas
vinte e oito centavos cada uma
as rugas nas retinas
até dos suicidas
além da letra não diz
carne quebrada na imagem
mesmo solene a palavra
é que brilha

diário do herói


depois
de grandes aventuras
contra a conta corrente
nosso herói
ofega a queda-d'água
cairão as paredes
um enxame de pessoas
correrá atrás dele
sem a cinta-liga
da justiça
portanto nu
porém vestido
nosso herói
não é de nada
nem de ninguém

a liberdade
é uma capa vermelha
no jardim da infância
uma capa amarela
na adolescência
uma capa de látex
na idade madura

sua vontade fede
a liberdade

defrontado
com malvados vigaristas
a família, o governo, os turistas
nosso herói
corta mato densa selva
arranca as unhas roídas
pela fuga dos cipós
encontra uma macaca chita
e chora as pitangas
desequilíbrio galho em galho
nós, primatas sem rabo

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

as formas
dos nossos pés
cabem nos rostos
ergonômicas
de modo escolha
se pisado
a eternidade
pela bota
ou língua
recolhe áspera
cócegas
ou filho
agita ao céu
os beijos

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

tudo ao mesmo tempo agora

queria achar um jeito
de perder a cachola

sem dar tiro no peito
sem levar a viola

e desfazer as malas
as cartas marcadas
sem nem dizer adeus
chegar no ponto de ir embora

levar bilhete e o pranto
de quem fica e não chora

ficar no mesmo canto
me esquecendo mundo afora

pular de um prédio alto
voar como um macaco
sem noite e sem luz
de pés descalços

ser sempre um não ser
sem hora certa, sem demora

ter tudo e não ter
tudo ao mesmo tempo agora

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Ele diz com todas as palavras que o proletariado espera pelo menos três serviços dos intelectuais e, portanto, dos artistas: a) que desintegrem a ideologia burguesa (nos dois sentidos: cair fora e denunciar, criticar até reduzir a pó); b) que estudem, compreendam, expliquem e exponham artisticamente, sempre de maneira crítica, as forças que movem o mundo e c) que façam a teoria e a arte avançarem na direção dos seus interesses.

http://www.brasildefato.com.br/content/%E2%80%9Cintelectuais-t%C3%AAm-pavor-de-revolu%C3%A7%C3%A3o%E2%80%9D
Cuando piense en gente hecha mierda diariamente
debo pensar también en la velocidad que se acumula
en las puertas de las villas,
en los barcos piratas que los niños contruyen
con las hojas de sus cuadernos
de gramática

Cuando piense en cárcel y escriba cárcel hasta la saciedad,
no olvidarme de anotar en una esquina
manos sobre genitales,
reconocimiento,
confidencias.

(Roberto Bolaño)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

quando imagina que invadem
naves alienígenas o corpo preparado com carinho
a mãe passou talquinho
a vida pôs as fraldas
caminho sem sinais de perda ou fim
não se anuncia o fim tão cedo
dias e noites sucedem
sem que nada cheire estranho
ameaça raios que atinja
não espera que aconteça
mate a mãe e os vizinhos
se o planeta cinde em dois
só pode ser coisa da sua cabeça
o coração ficou sambando na avenida e morde
o dia quando provocado se mistura
entre os cachorros uma ideia bebeu muito
medo igual cadela as costas curvas o corpo
é o mais cruel dos berçários um bloco
de samba sobra só o coração

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Um dente terrível se anuncia na sala
sozinho não morde nada. Tem dentes o dente
uma boca afiada corta a pele
borrachuda dos lábios perto, o dente cobre
cárie toda a cidade se curva os cachorros
do mato invadem berçários, mordida
de espera aguarda os pedaços, os médicos
dão de ração às bocas os filhos - vivos
quem foge
quem morde

Meninas, vão para os seus quartos
A mãe ciosa prepara os doces
Viemos aqui em busca da carne
Protege as filhas que nem cria
Guardadas pra que não sejam mordidas
Tremem no quarto abraçadas, silêncio
Meu marido vai chegar a qualquer momento
O espartilho expande ventre inteiro
O dente - canino - rasga-a ao meio