minha mãe acha que beijo é troca
de micróbios portanto não devíamos
a menos que casássemos com quem
do sexo oposto não nos desse
DSTs cornos talvez tapas no rosto
meu vô fratura o úmero
tenho que buscar
no google descubro
é o osso do braço
dele que herdei
obsessão com a morte
mas cai e não morre
e quando ocorre não liga
nem pra saber se está bem
domingo, 24 de março de 2013
depois do diário
i
amarram essas paredes com uma vontade bem firme
e olha só elas estão bambas
ii
a terapia dos cadernos acumula pó debaixo da cama
lá também vive o monstro que escrevia
iii
depois dos diários deixamos de enviar notícia
o mundo é grande, qualquer um encontra
iv
gaiola não canta
amarram essas paredes com uma vontade bem firme
e olha só elas estão bambas
ii
a terapia dos cadernos acumula pó debaixo da cama
lá também vive o monstro que escrevia
iii
depois dos diários deixamos de enviar notícia
o mundo é grande, qualquer um encontra
iv
gaiola não canta
sexta-feira, 15 de março de 2013
abraço um cachorro entupido nas tubas oculares
ele morde as nervuras de uma neblina
que não pode ser avisada
meu cão-guia só tem dentes e deixa
para mim as patas de tropeço, amordaço
nos óculos quebrados os conceitos
as esperas se embaçam
abraço um afeto que me morde
com dentes afiados de filhote
afeto difuso antes dos dentes
o corpo sangra, coça, arde
sobretudo ele incomoda
a neblina que o envolve
abraço essa fumaça
ela vaza do meu abraço
*
hieroglifos nos papéis do asfalto são
uivos noturnos o perigo na floresta
amanhece e a névoa cobre o capim baixo
sobre o lago que não vemos
periga cair e se afogar
periga que um lobo ou um jaguar
os primatas que nasciam cegos
eram deixados para trás
no próprio azar
ele morde as nervuras de uma neblina
que não pode ser avisada
meu cão-guia só tem dentes e deixa
para mim as patas de tropeço, amordaço
nos óculos quebrados os conceitos
as esperas se embaçam
abraço um afeto que me morde
com dentes afiados de filhote
afeto difuso antes dos dentes
o corpo sangra, coça, arde
sobretudo ele incomoda
a neblina que o envolve
abraço essa fumaça
ela vaza do meu abraço
*
hieroglifos nos papéis do asfalto são
uivos noturnos o perigo na floresta
amanhece e a névoa cobre o capim baixo
sobre o lago que não vemos
periga cair e se afogar
periga que um lobo ou um jaguar
os primatas que nasciam cegos
eram deixados para trás
no próprio azar
quinta-feira, 14 de março de 2013
domingo, 3 de março de 2013
"não podes, sozinho, dinamitar"
a página do jornal na internet
informa
que todo dia cai um viaduto
embora informe
"viaduto caiu em"
acrescente a cidade que você imaginar
hoje foi em calcutá
troque viaduto por prédio
subtraia as razões da queda
que podem ser improbidade administrativa
ação de grupos extremistas
catástrofes naturais
ou qualquer outra expressão
entre as mais lindas da língua portuguesa
subtraia as histórias dos mortos
principalmente se continuam vivos
as fotos mostram os escombros
e o corpo dos bombeiros bem servido
de fardas e esforços pra ajudar a humanidade
subtraia a granola
que eu como com leite enquanto leio
a notícia de tragédia
já fomos melhores em tragédia
houve um tempo em que se arrancavam os olhos
e os corvos comiam teu fígado
até o fim da eternidade
se você ousasse trazer o fogo
pros outros
agora comemora
a ocupação militar em favelas
no rio de janeiro junto às pedras
mudas do viaduto de calcutá
um desconto no carro zero
não que eu seja saudosista
de um tempo mítico desconhecido
desde o começo dos tempos, dizem,
cai um viaduto por dia
no mundo
passo o café pensando nos indianos
e na ocupação militar das favelas
e tentando esquecer do carro
zero
passo o café pensando
em pôr bombas nas redações
dos grupos empresariais
que se entrincheiram nos maiores jornais
comerciais do país
pra que a notícia caia na boca
do povo:
todo dia cai um poderoso
informa
que todo dia cai um viaduto
embora informe
"viaduto caiu em"
acrescente a cidade que você imaginar
hoje foi em calcutá
troque viaduto por prédio
subtraia as razões da queda
que podem ser improbidade administrativa
ação de grupos extremistas
catástrofes naturais
ou qualquer outra expressão
entre as mais lindas da língua portuguesa
subtraia as histórias dos mortos
principalmente se continuam vivos
as fotos mostram os escombros
e o corpo dos bombeiros bem servido
de fardas e esforços pra ajudar a humanidade
subtraia a granola
que eu como com leite enquanto leio
a notícia de tragédia
já fomos melhores em tragédia
houve um tempo em que se arrancavam os olhos
e os corvos comiam teu fígado
até o fim da eternidade
se você ousasse trazer o fogo
pros outros
agora comemora
a ocupação militar em favelas
no rio de janeiro junto às pedras
mudas do viaduto de calcutá
um desconto no carro zero
não que eu seja saudosista
de um tempo mítico desconhecido
desde o começo dos tempos, dizem,
cai um viaduto por dia
no mundo
passo o café pensando nos indianos
e na ocupação militar das favelas
e tentando esquecer do carro
zero
passo o café pensando
em pôr bombas nas redações
dos grupos empresariais
que se entrincheiram nos maiores jornais
comerciais do país
pra que a notícia caia na boca
do povo:
todo dia cai um poderoso
sábado, 2 de março de 2013
tem um vulcão
no coração de cada criança
esse afeto que fere
os cãezinhos ao acarinhar
com força aperta
você é o meu amorzinho
e te quebro as patinhas
te machuco o focinho
quando entra em erupção
o coração das criancinhas
salve-se quem puder
pompeia foi fichinha
*
restava uma dúvida
da vida que iria levar
o talo verde na coluna crescendo
criando seiva saudável
até que eu chegasse nos 28 anos
o talo tornando-se enfim
marrom como as árvores grossas
a meio palmo de viverem
trezentos anos mais que a gente
a menos que caiam, trezentas
árvores tombaram em são paulo
na semana passada, e cortaram a luz de todas as casas
menos da minha
*
quando cresce
o coração endurece
a lava esfria
muito ar
no nosso tórax
já estamos aptos
a educar
as criancinhas
*
as árvores
lentamente
como podem
deixam são paulo
minhas raízes
antes aéreas
se fincam na terra
daqui ninguém me tira
uma nuvem
assombra a cidade
as crianças são frutos
que apodrecem
no coração de cada criança
esse afeto que fere
os cãezinhos ao acarinhar
com força aperta
você é o meu amorzinho
e te quebro as patinhas
te machuco o focinho
quando entra em erupção
o coração das criancinhas
salve-se quem puder
pompeia foi fichinha
*
restava uma dúvida
da vida que iria levar
o talo verde na coluna crescendo
criando seiva saudável
até que eu chegasse nos 28 anos
o talo tornando-se enfim
marrom como as árvores grossas
a meio palmo de viverem
trezentos anos mais que a gente
a menos que caiam, trezentas
árvores tombaram em são paulo
na semana passada, e cortaram a luz de todas as casas
menos da minha
*
quando cresce
o coração endurece
a lava esfria
muito ar
no nosso tórax
já estamos aptos
a educar
as criancinhas
*
as árvores
lentamente
como podem
deixam são paulo
minhas raízes
antes aéreas
se fincam na terra
daqui ninguém me tira
uma nuvem
assombra a cidade
as crianças são frutos
que apodrecem
Assinar:
Postagens (Atom)