abraço um cachorro entupido nas tubas oculares
ele morde as nervuras de uma neblina
que não pode ser avisada
meu cão-guia só tem dentes e deixa
para mim as patas de tropeço, amordaço
nos óculos quebrados os conceitos
as esperas se embaçam
abraço um afeto que me morde
com dentes afiados de filhote
afeto difuso antes dos dentes
o corpo sangra, coça, arde
sobretudo ele incomoda
a neblina que o envolve
abraço essa fumaça
ela vaza do meu abraço
*
hieroglifos nos papéis do asfalto são
uivos noturnos o perigo na floresta
amanhece e a névoa cobre o capim baixo
sobre o lago que não vemos
periga cair e se afogar
periga que um lobo ou um jaguar
os primatas que nasciam cegos
eram deixados para trás
no próprio azar
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