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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

o fim da história da lagarta

foi no dia seguinte, mesmo, que a lagarta já tinha comido quase toda a folha de alface, que estava murcha irremediável, e quis sair do copo de vidro andando pelas bordas.

uma folha de couve, fresca por enquanto, não adiantou o apego. outra folha de alface, arrancada clandestinamente do pé, tampouco.

depois de muito considerar, quais hipóteses, minhas responsabilidades de carinho e de cuidado, o melhor era mesmo largá-la à sorte na natureza, bichos selvagens só foram domesticados depois de séculos.

no carro a gente fala da ração canina industrializada, feita para que o cocô fique pegável. mas os próprios caninos foram industrializados, embora um tempo que não havia indústria. se sumíssemos todos humanos, os cachorros soltos sem pedigree champ se comeriam poodles chihuahuas só os grandes viveriam, e mesclados, tornariam outra vez ao estágio lobo evolutivo, em matilhas caçando o que se atrevesse a humano, seus antigos donos.

também digo, convicto, que temos que matar tudo, todos os bichos. que eles não teriam dó da gente. uma barata gigante na ásia come filhotes de cobra e de tartaruga. caça-os, prende entre as garras, mata-os vivos e come. aranhas e escorpiões, desse tamanhico já nos caçam e querem tão mal. eu os mato com a tristeza e a honra dos sobreviventes, culpa cristã.

a lagarta, então, por afeto, joguei ela no lixo. se jogasse na horta, minha amiga brigava comigo. o luiz disse "a natureza em são paulo". implacável, medonha, miséria, não lembro qual adjetivo ele usou.

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