a gente se perde, um dia
sobre a beliche, um dia cai
o monstro sob a cama
vai acumulando tropeços, descasos,
vai, enfim, virando
o monstro que ninguém é
nem ele
nem eu
nem você
acomodados no colo do monstro
acabamos gostando dele, que nos nina
por isso nós sempre gostamos de ser monstros
e vivemos uma linda amizade desde então
ora, os astros e as cidades
nos separem quanto possam
após levar a lambada da vida
em vírus e lutos e futuros
pretérito, não sou eu
que vou dizer NÃO aos quilômetros
NÃO ao cansaço, um "sim" quase mudo
a você
aceito, resignado, que o meu tamanho no mundo
é 1m84
com margem de erro de um centímetro
para mais ou para menos
mas não margem de erro do rio da Prata
a nós ninguém deu essa margem tão
larga
meu braços não alcançam meu coração
que está contigo. antes eu diria
tudo isto. agora escrevo,
é o bastante. nada convence
que a nossa amizade seja margem
errada. a água brota, evapora, transforma
em fundo buracos onde habitam bichos
bichas insuspeitas. é muito bom, até na água,
estar contigo
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