Segundo a observação de H. von Stein, ao ouvir a palavra "natureza", o homem dos séculos XVII e XVIII pensa imediatamente no firmamento; o do século XIX pensa em uma paisagem.
(Raízes do Brasil)
*
o céu é que serve
de horizonte quando ao seu lado
os lobos ainda ameaçam
depois domesticada a gente passa
a não ver mais estrelas
*
a constelação de ema
é comida pelo escorpião
lei do antropófago europeu:
só interessa o que é meu
*
um europeu pergunta ao outro
porque deus não fez nos céus
perfeitas formas e tecidos
com as estrelas ao acaso
assim dispostas até parece
que deus não existe
o outro europeu responde
que se deus assim dispôs
é porque tinha um bom motivo
*
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
quem diz macacos
me mordam
deve atentar que essa frase
de infância chama os espíritos
dos macacos, que, por sua vez,
chamam os macacos vivos
o butantã, lar do famoso serpentário,
corre o risco de ser invadido
por um exército de macacos
doidos pra morder
o atrevido
ii
tem os dentes
fossilizados
e tem aqueles
desfeitos erosão
pela memória
cuidado
iii
tem os dentes
da caveira
e tem aqueles
sorrindo na foto
do meu pai
são os mesmos
dos dentes se aprende
(que é que eu aprendo?)
mastigo um pedaço
de queijo no almoço
tudo o que eu mastigo está morto
iv
dos dentes se aprende
quem caça sem dúvida
sobrevivência garantida
pelo bote da mandíbula
meus avós guardam na pia
numa caneca quebrada
fazem poupança com a aposentadoria
mas já não esperam mais nada
v
nestes tempos de epidemia
não conte com a antropofagia
nestes tempos de contaminação
não confie só na digestão
nestes tempos de sobreaviso
não morda nem seu amigo
vi
nestes tempos autoimunes
os galhos tremem
os micos têm medo
e fome, mas só ficam assistindo
o bairro espera
o novo ataque
treme à espreita
das suas feras
são outros dentes que mordem
o interior das bochechas
me mordam
deve atentar que essa frase
de infância chama os espíritos
dos macacos, que, por sua vez,
chamam os macacos vivos
o butantã, lar do famoso serpentário,
corre o risco de ser invadido
por um exército de macacos
doidos pra morder
o atrevido
ii
tem os dentes
fossilizados
e tem aqueles
desfeitos erosão
pela memória
cuidado
iii
tem os dentes
da caveira
e tem aqueles
sorrindo na foto
do meu pai
são os mesmos
dos dentes se aprende
(que é que eu aprendo?)
mastigo um pedaço
de queijo no almoço
tudo o que eu mastigo está morto
iv
dos dentes se aprende
quem caça sem dúvida
sobrevivência garantida
pelo bote da mandíbula
meus avós guardam na pia
numa caneca quebrada
fazem poupança com a aposentadoria
mas já não esperam mais nada
v
nestes tempos de epidemia
não conte com a antropofagia
nestes tempos de contaminação
não confie só na digestão
nestes tempos de sobreaviso
não morda nem seu amigo
vi
nestes tempos autoimunes
os galhos tremem
os micos têm medo
e fome, mas só ficam assistindo
o bairro espera
o novo ataque
treme à espreita
das suas feras
são outros dentes que mordem
o interior das bochechas
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
o dia que eu for escritor
minha mãe vai contar
às amigas o marcos
ganhou prêmios elas vão dizer
cejuraquelegal
deus me livre do dia em que eu ganhe prêmios
avolumando-se as consumidoras na garganta dos livreiros
e o mundo igual do mesmo jeito
me perguntam da arte da fome do brasil e eu vou dizer
bobagens publicadas minha mãe vai contar
às amigas o marcos saiu
até no jornal
deus me livre de um dia sair no jornal
ii
vimos
por meio desta
comunicar-lhe apesar
das evidentes qualidades literárias
decidimos não publicar seu livro
boa sorte
boa noite
seu livro foi selecionado
parabéns
entre milhares de outros
e agora queremos
dar ao mundo essa obra
de extremo bom gosto
você tem interesse em publicar conosco?
iii
tudo que eu escrevo
é poema, menos isto
trata-se de reza
a céu aberto
eu e as evangélicas
gostamos de rezar
bem alto na porta
às amigas o marcos
ganhou prêmios elas vão dizer
cejuraquelegal
deus me livre do dia em que eu ganhe prêmios
avolumando-se as consumidoras na garganta dos livreiros
e o mundo igual do mesmo jeito
me perguntam da arte da fome do brasil e eu vou dizer
bobagens publicadas minha mãe vai contar
às amigas o marcos saiu
até no jornal
deus me livre de um dia sair no jornal
ii
vimos
por meio desta
comunicar-lhe apesar
das evidentes qualidades literárias
decidimos não publicar seu livro
boa sorte
boa noite
seu livro foi selecionado
parabéns
entre milhares de outros
e agora queremos
dar ao mundo essa obra
de extremo bom gosto
você tem interesse em publicar conosco?
iii
tudo que eu escrevo
é poema, menos isto
trata-se de reza
a céu aberto
eu e as evangélicas
gostamos de rezar
bem alto na porta
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
um encontro estala atrás
do poste de luz da esquina
te disse que está lá atrás os guardas
o levam dali para a jaula o encontro
era um javali
órfão porque no escuro
da metrópole
ii
um naco de vidro que prende na garganta
um pote de abacate que caiu e se quebrou
a língua alcança os dedos e neles tinha vidro
e tinha o abacate amassado com açúcar
agora sinto sangue descendo pelo esôfago
agora desacomoda e o vidro ainda está ali
iii
o encontro também
pode ser?
uma praia aonde eu não vou
o cós das calças que eu não sei
uma queda bem distante
a intransigência de alguém
os futuros carcomidos
pelo vento do passado
o passado afogado
na enxurrada do futuro
maduro maduro
monturo
iv
hoje
exploraremos
o encontro
do rio negro
consigo mesmo
as águas
as algas
amalgamam
a história
do curso
que deságua
não seguiremos
nós parados
neste exato
corrente
momento
v
prometo pensar o imediato
porque me perco se distraio
perseguindo umas palavras
que não têm lastro então eu penso
nestes dentes todos juntos
o encontro seria
só meu se eu fosse
um destes dentes
eu nem ia ligar
eu, enquanto dente,
encontrado que estaria
no desgaste que mastiga
vi
esta
é a história
de quando a história não sabe
de si
do poste de luz da esquina
te disse que está lá atrás os guardas
o levam dali para a jaula o encontro
era um javali
órfão porque no escuro
da metrópole
ii
um naco de vidro que prende na garganta
um pote de abacate que caiu e se quebrou
a língua alcança os dedos e neles tinha vidro
e tinha o abacate amassado com açúcar
agora sinto sangue descendo pelo esôfago
agora desacomoda e o vidro ainda está ali
iii
o encontro também
pode ser?
uma praia aonde eu não vou
o cós das calças que eu não sei
uma queda bem distante
a intransigência de alguém
os futuros carcomidos
pelo vento do passado
o passado afogado
na enxurrada do futuro
maduro maduro
monturo
iv
hoje
exploraremos
o encontro
do rio negro
consigo mesmo
as águas
as algas
amalgamam
a história
do curso
que deságua
não seguiremos
nós parados
neste exato
corrente
momento
v
prometo pensar o imediato
porque me perco se distraio
perseguindo umas palavras
que não têm lastro então eu penso
nestes dentes todos juntos
o encontro seria
só meu se eu fosse
um destes dentes
eu nem ia ligar
eu, enquanto dente,
encontrado que estaria
no desgaste que mastiga
vi
esta
é a história
de quando a história não sabe
de si
sábado, 5 de janeiro de 2013
novo
às vezes
o ano
cai de repente
outras vezes
ele entra
suave
este ano
parece
ainda está na barriga
de dezembro
ii
ingrato
depois de tudo
em 2012
vai dizer que não quer
2013
que pose
iii
às vezes
quem entra
no ano é você
outras vezes nem
isso
iv
variações
monótonas
precárias
sobre um mesmo tema
2011
2012
2013
v
resoluções de ano novo
desistir de ser poeta
entrar pro clube de remo
comer menos
(não necessariamente
nessa ordem)
vi
resoluções para 2013
escrever algo que preste
reinventar a rima fácil
jogá-la pelo ralo
escrever o imprestável
vii
segunda lista
de resoluções
querida mãe
persistir na análise
let's start a magazine
viii
pendurar uma placa
no pescoço na porta
contenha-me
viiiiiiiiiii
o ano
cai de repente
outras vezes
ele entra
suave
este ano
parece
ainda está na barriga
de dezembro
ii
ingrato
depois de tudo
em 2012
vai dizer que não quer
2013
que pose
iii
às vezes
quem entra
no ano é você
outras vezes nem
isso
iv
variações
monótonas
precárias
sobre um mesmo tema
2011
2012
2013
v
resoluções de ano novo
desistir de ser poeta
entrar pro clube de remo
comer menos
(não necessariamente
nessa ordem)
vi
resoluções para 2013
escrever algo que preste
reinventar a rima fácil
jogá-la pelo ralo
escrever o imprestável
vii
segunda lista
de resoluções
querida mãe
persistir na análise
let's start a magazine
viii
pendurar uma placa
no pescoço na porta
contenha-me
viiiiiiiiiii
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