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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

dentadura fixa

a dentadura era uma ideia

que às vezes caía da nossa boca

então compramos um gel fixador

e ela nunca mais despegou

a higiene das ideias é algo difícil de fazer

formam cáries as tuas ideias, e não mastigam muito bem

os dentes crescem para sempre

o que os impede é o atrito dos de baixo com os de cima

tiro a minha dentadura

ponho-a do lado, um conjunto em cada copo

separados pela cama, os dentes crescem e quebram os copos

minha dentadura de madeira como a de washington

cria raízes e quebra as calçadas de são paulo

o asfalto não detém a mordida

fico banguela enquanto os dentes

crescem e tomam em floresta a cidade

depois o país, quase o continente

antes que os eua os bombardeiem

e o atlântico de um lado, do outro, o pacífico

cessem a terra em que cresciam

*

ando só e desdentado entre as ruínas do ano passado

pra nutrição chupo o que aparece, e nisso viro autoridade

as crianças da aldeia me cercam para aprender a chupar

tirando os nutrientes necessários, evitando o veneno

*

de uma árvore nascem dentaduras

quando estico um braço pra alcançar uma

os dentes tilintam do topo da árvore

e dizem, suas vozes de frutas

"morde morde morde"

acordo tão assustado que minhas gengivas sangram

do bruxismo que não cede à ausência dos dentes

dormi sob a árvore do cão

se olho para cima, os dentes latem

*

antes as ideias adubavam o solo

agora amadurecem nas copas e preparam

a queda que estilhaça o doce em sementes

animais silvestres as comem e levam em fezes

plantações dos mesmos dentes a outras paisagens

as ideias crescem até onde a vista alcança

se um viajante incauto deita-se sob elas pra descanso

acorda mastigado e digerido

depois, as ideias cantam

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